Eu não sabia de onde eu tinha tirado aquilo, mas eu sabia que estava certo

Gabriel Louback
2 min readMay 29, 2021

Lembro da primeira vez que fui estender um varal na minha própria casa, com roupas minhas e da Carol. Era um dia frio e, ao pegar uma peça, eu não sabia se ela estava apenas gelada ou ainda úmida. Automaticamente, levei a peça para perto da boca, para sentir a umidade ou temperatura da peça de roupa.

Por um milésimo de segundo, eu não sabia de onde eu tinha tirado aquilo, mas eu sabia que estava certo.

Logo em seguida, me veio a imagem de minha mãe fazendo isso e eu, de alguma forma, imitando-a, quando eu ainda era criança – e estendia roupa com ela.

Lembrei disso hoje de novo, escolhendo feijão. Havia um bom tempo que eu não fazia isso, mas de repente eu não precisei pensar em como espalhar o feijão, definir um método de separação ou até um parâmetro do que é um feijão bom para um que não serve: os movimentos, tanto das mãos quanto dos olhos, simplesmente vieram.

Tem um provérbio na Bíblia que diz:

“Ensine uma criança a andar em seu próprio caminho, e quando for mais velha, ela continuará nele.” (Provérbios 22:16)

Gosto dessa interpretação mais literal à partir do original, em hebraico, pois pressupõe que cada criança tem uma habilidade especial, uma capacidade e poder individual de realizar seu próprio caminho.

Assim, caberia a nós simplesmente ajudá-la a se encontrar e se descobrir, ajudá-la a desvendar qual é esse caminho dentro dela, ajudá-la a perceber que algo de especial e divino foi feito dentro dela e que ela reflete isso de alguma forma, à sua própria maneira.

Quando mais velha, então, essa criança-agora-adulta se lembrará de si mesma mais nova e daquele caminho primordial, daquele caminho que desde sempre pertenceu a ela e ela a ele, sendo tão natural dar seus passos nele e na direção que ela já conhece como alguém encostar uma roupa gelada na boca para ver se está úmida ou separar o feijão do dia.

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